sábado, 11 de fevereiro de 2012

Domingo.


Liguei a TV e sentei na poltrona próxima à janela. Ao som da voz de um apresentador qualquer, percebi que naquele momento eu não tinha o que fazer. Deixei a TV ligada e saí perambulando pela casa com esperança de achar algo interessante para preencher o vazio que o tédio nos preenche.
Observei o gato deitado de maneira estranha-meio-que-acrobata, a cortina que balançava, a luz que aparecia e sumia sob a planta da estante, a entrada de poeira que deu pra perceber com a graça da luz, o quadro que entortei e não coloquei no lugar, as roupas em cima da cama, a torneira aberta por causa do defeito que sempre esqueço de consertar, o espelho que anda sujo, as canetas que esqueci na escrivaninha, os livros fora da ordem, o espelho novamente...
Tá, eu poderia poupar você de saber do trajeto, mas achei tão cinematográfico que achei que ele merecia estar descrito. Agora, voltando ao espelho, por ter parado de frente pra ele – para um momento quase narciso, me dei conta de como esse objeto meche com a gente. Ainda paralisada, observando os detalhes em mim, não era exatamente na minha pessoa em que eu pensava. Pensei numa viagem à Londres, no frio da Rússia que nunca senti, no calor da Índia que ainda penso em passar. Pensei até em virar cineasta. Quem sabe começar por um roteiro? Ou então me contentar com um poema? Ou um café? Sacudi o rosto para passar o devaneio e resolvi fumar. Acendi o cigarro, voltei para a poltrona. Poxa, mas eu nem fumo mais - pensei. Apaguei o cigarro, joguei o cinzeiro e a carteira fora e fiquei sem nada para fazer.
Vidrada em um calendário me dei conta do motivo do tédio. Era domingo! Meu deus! Por que eu não pensei nisso antes? Permaneci sentada porque já havia encontrado explicação para a maresia. Era como se o fato de o domingo ser apenas domingo, fosse o suficiente para funcionar como maneira de me conformar e de me deixar apenas ali, sentada. Afinal, era domingo. E no domingo, a gente não tem obrigação de fazer alguma coisa.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Da série de textos que não precisam de títulos.

Sai do metrô, pega a esquerda, esquerda de novo e pronto: casa dele. Sempre a mesma agonia por dentro até ele atender o interfone. Abria a porta como quem nada queria, me beijava os olhos, acariciava o meu rosto e fazia o café ou qualquer coisa pra tapear os primeiros minutos de um encontro.
Durante o devaneio da cafeína, conversávamos, sempre olhando nos olhos do outro, sempre sabendo de que aquilo tudo era muito bom. As palavras eram interrompidas por beijos que viravam carinhos que viravam tropeços pela casa que viravam apertos que viravam roupas pelo chão e fim.
Eu só tinha certeza do que iria acontecer quando ele tirava os óculos. Isso era um sinal de que ele estava se libertando de algo pra gente virar um.
Mas hoje eu saí do metrô, peguei a esquerda, esquerda de novo e pronto: casa dele. Ele abriu a porta como quem algo queria, beijos as minhas mãos e me convidou para sentar. Foi até a mesa, virou para mim e disse que precisava conversar algo urgente comigo. Gelei, pensei em começar a falar, mas senti que não devia. Ele me deu as costas, olhou para mim novamente, virou e não tirou os óculos. Nesse momento me dei conta de que já não era mais a nossa hora. Mas como as coisas sempre nos surpreendem, ele chegou mais perto e acariciou os meus ombros. Eu comecei a ficar mais confusa até que me dei conta de que ele deixou os óculos caírem. Não disse nada. Apenas olhou pra mim e deixou tudo acontecer.